Sexta-feira, 2 de Janeiro de 2009

A propósito de uma peça de teatro

 

O irreal que acontece. Pessoas que não existiam, saem de um palco escuro.

O negro, o branco, o biombo: uma sombra. A voz que rasga violentamente o ar. A pose que se crava na memória. O cheiro que penetra a alma, tornando mais intensa e poderosa a palavra.

Tudo são fantasias inocentemente pueris. Sonhos com asas nos pés para ir onde a vontade determinar.

Os contrastes.

A música.

O impacto.

A poesia.

Predomina o invulgar – em tudo!

Sem rótulos, só essência: sentir o que se diz, o que se ouve, o que se vê, o que se saboreia, sentir igualmente o que se cheira...

Serão as coisas simples da vida, as mais belas?!

Vida ou morte?

Luz ou sombra?

Música ou silêncio?

Opostos que, inevitavelmente, se anulam ou se atraem(?!).

É o jogo de contrastes que gera movimento, acção – a qual faz com que os espíritos mais pacíficos se revoltem e revolvam as velhas ideologias.

O espectáculo memorável capta todos os sentidos que uma pessoa possa ter; e as sensações – essas – ficam gravadas e guardadas numa parte específica da memória da saudade.

O teu rosto é uma máscara. Quando quiseres tirá-la não consegues porque ela está demasiado colada a ti; e se, por fim, a tirares verificas que já estás velho”. São as palavras exactas, no local correcto e na hora mágica.

Serão loucos ou viveram a vida?

São adultos, mas crianças.

São livres – almas e corpos – e são felizes.

Sem rótulos.

Encenações.

Teatro.

Farsas... vidas... tentativas...

Sobrevivência ou vivência (?!)...

Mentiras... enganos... lapsos...

Ocultar... escusar... vibrar... delirar...

Vidas... farsas...

A vida é um palco!

Cada um representa o seu papel.

Cada um tenta escapulir-se por onde (e como) puder.

Por vezes, a encenação é melhor que a acção desenrolada.

Por vezes, o papel é vivido de alma e corpo, não deixando espaço para dúvidas sobre a sua veracidade.

A escola da vida é mais fundamentada que os saberes académicos, dizem. É preciso é saber decifrá-la, dizemos nós!

À noite, os actores despem os seus papeis e são o que a essência ínfima demanda.

À noite, no escuro, é fácil falar de tudo, de modo liberto. Os espíritos vogam no espaço como reis e senhores de um território sagrado. De noite não são necessárias máscaras.

À noite somos o que a natureza demanda que sejamos...

Bons ou maus, verdadeiros ou mentirosos, sonolentos ou alucinados, ébrios ou sóbrios...

À noite, o medo esconde-se em casa, com medo da liberdade absoluta!

O medo só existe quando não há certezas, só permanece quando há valores inferiores que se sobrepõem à libertação total.

É o medo que faz com que se viva num palco onde, constante e diariamente, são interpretadas farsas, encenações vis, sem sustentáculos fortes.

Por tudo isso, a vida se torna uma constante luta pela sobrevivência: uma luta num jogo labiríntico de mentiras, enganos, verdades, delírios, desculpas...

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A chuva bate nos vidros. Indiferente a tudo e todos. Será ela igualmente indiferente ao seu destino? Está o tempo perf...

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